quinta-feira, 31 de março de 2011

Admirável trabalho novo?


Os impactos econômicos e sociais das mudanças no mundo do trabalho e a posição de especialistas e profissionais diante dessas transformações
por Priscila Gorzoni*

Ao longo dos últimos anos vem se observando, em diversas partes do mundo, uma modificação nas formas e estruturas de trabalho. Se por um lado percebemos a alta taxa de desemprego, a falta de estabilidade nas
empresas, a tercerização e a ausência de registros profissionais, de outro ouvimos de consultores promessas de mais flexibilidade nos horários de trabalho, maior autonomia na produção, mais capacitação e interação do profissional. Devemos boa parte dessas modificações às mudanças dos paradigmas do trabalho, às inovações tecnológicas e à globalização, que rompeu com as barreiras da distância. Quais são os impactos positivos e os negativos dessas modificações?
Assim como a sociedade industrial do início do século XX se viu centrada nas relações trabalhador e indústria, vivemos hoje uma nova dinâmica social moldada não só pela era digital, na qual outras interações se criam e transformam a forma de vermos o mundo, mas pela rapidez e instabilidade derivada dela. Entretanto, essas mesmas armas que em certo aspecto facilitam, em outros tantos dificultam, exigindo ainda mais dos profissionais, que agora não se sustentam ao dominar apenas o conhecimento de sua função. Além disso, existe um outro fator de angústia: ter de lidar com a falta de vínculos, o desemprego e a efemeridade dos contratos trabalhistas. 
As modificações nas relações de trabalho não afetam apenas o setor profissional, mas a dinâmica social. "O mundo vive transformações radicais, a produção do conhecimento e as conquistas tecnológicas assumem uma velocidade muito intensa. Estas modificações influenciam o mercado de trabalho exigindo um profissional que se atualize constantemente e que se aproprie da tecnologia a serviço de seu foco profissional", exemplifica o psicólogo Alexandre Rivero.
Entretanto, como afirma o sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennett, professor de Sociologia e História na London School of Economics e autor de um livro clássico sobre o mundo do trabalho, "A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo" (Editora Record), os últimos anos não foram os melhores para os trabalhadores. Um dos fatores é o aumento do volume de atividades sem a elevação compatível de salário e benefícios. O sociólogo também vê com preocupação uma das principais mudanças na organização do trabalho, que é a perda da identidade. Sennett aponta ainda para questões como a falta de vínculo com o local de trabalho, a diminuição, ou melhor, a perda dos laços de solidariedade dentro da empresa, a degradação e humilhação na seleção de profissionais. Para completar, o alto escalão de uma empresa e os níveis gerenciais mostram-se pouco comprometidos com essas "consequências pessoais do novo capitalismo" (não por acaso o subtítulo da obra de Sennett), ou mascaram isso com ações recreativas supostamente voltadas para uma maior "qualidade de vida" dos seus "colaboradores".

"O MUNDO VIVE TRANSFORMAÇÕES RADICAIS, A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E AS CONQUISTAS TECNOLÓGICAS ASSUMEM UMA VELOCIDADE MUITO INTENSA"
ALEXANDRE RIVERO, PSICÓLOGO
A análise de Sennett vai longe e aprofunda-se na dinâmica social. Em "A corrosão do caráter", ele afirma que o capitalismo vive na atualidade um novo momento, de natureza flexível. Sennett inicia o prefácio do livro lembrando que "A expressão 'capitalismo flexível' descreve hoje um sistema que é mais que uma variação do mesmo tema. 
Enfatiza-se a flexibilidade. Atacam-se as formas rígidas da burocracia, e também os males da rotina cega. Pede-se que os trabalhadores sejam ágeis, estejam abertos a mudanças de curto prazo, assumam riscos continuamente, dependam cada vez menos de leis e procedimentos formais". Portanto, de acordo com o autor, essa "nova ordem" capitalista afeta a tal ponto os indivíduos, que não lhes oferece condições para uma construção linear de vida baseada em suas experiências. Ao contrário do trabalhador no modelo fordista do passado que, embora imerso na burocracia, rotina e alienação, possuía uma trajetória constante e expectativas de longo prazo. Atualmente, isso já não é tão possível devido a uma dinâmica de incertezas, mudanças de emprego e de cidade e o sucessivo rompimento de laços. As relações centrais, outrora vistas
e sentidas na coletividade, passam a ser individulizadas, extrapolam o mundo do trabalho e se estendem a toda forma de sociabilidade. Em um mundo fragmentado, de relações efêmeras, cortadas, instáveis, sem continuidade, tampouco margem de segurança, tudo, inclusive o trabalho, perde a referência e a compreensão.
Não são apenas as formas de trabalho que se tornaram flexíveis, mas as de poder. Em um sociedade em que nada é contínuo, é preciso reinventar a estrutura das instituições. No entanto, embora na superfície pareça que a equipe possui autonomia, ainda é o capitalista quem dá as cartas. A única novidade nesse processo é a maneira e o lugar onde, em muitas áreas e profissões, ocorre tal expediente. Troca-se a empresa pela casa e o controle face a face pelo meio eletrônico. Essa estrutura de trabalho não só enfatiza a já comentada ausência de vínculos estáveis entre empregado e empresa, como gera uma desordem social e na identidade do trabalhador. Dentro desse sistema passa-se também a valorizar o jovem (embora, paradoxalmente, exiga-se dele experiência), pois eles seriam mais flexíveis e adaptáveis a várias circunstâncias.
Para finalizar as colocações aterradoras de Sennett, as relações impessoais de trabalho irão afetar diretamente as sociais e vice-versa. Estabelecendo relações superficiais, descartáveis, cujos laços de lealdade e compromissos são tão frouxos quanto a efemeridade do curto prazo de trabalho. "Em um regime que não oferece aos seres humanos motivos para ligarem uns para os outros não pode preservar sua legitimidade por muito tempo", ressalta o autor.

"A EXPRESSÃO 'CAPITALISMO FLEXÍVEL' DESCREVE HOJE UM SISTEMA QUE É MAIS QUE UMA VARIAÇÃO DO MESMO TEMA. ENFATIZA-SE A FLEXIBILIDADE. ATACAM-SE AS FORMAS RÍGIDAS DA BUROCRACIA, E TAMBÉM OS MALES DA ROTINA CEGA. PEDE-SE QUE OS TRABALHADORES SEJAM ÁGEIS, ESTEJAM ABERTOS A MUDANÇAS DE CURTO PRAZO, ASSUMAM RISCOS CONTINUAMENTE, DEPENDAM CADA VEZ MENOS DE LEIS E PROCEDIMENTOS FORMAIS" RICHARD SENNETT, SOCIÓLOGO E AUTOR DE "A CORROSÃO DO CARÁTER : CONSEQÜÊNCIAS PESSOAIS DO TRABALHO NO NOVO CAPITALISMO ".

Presidenciáveis, ideologia e ensino técnico

Não conheço nenhum aluno que saiu de uma escola técnica de nível médio que, se a duras penas chegou à universidade, fez elogio ao ensino que obteve antes do nível superior. Seja lá de qual escola veio, o aluno do ensino técnico, nesses últimos 20 anos em que acompanho suas trajetórias na universidade, reclama mais que os outros – e não sem razão – pela sua dificuldade no ensino superior. A despeito disso, os três candidatos à presidência que aparecem com intenção de voto nas pesquisas querem priorizar o ensino técnico.

Nesse aspecto, os três falam sem conhecimento de causa. Marina quer ensino técnico com o currículo “voltado para o verde”. Dilma quer continuar a ampliação do “ensino técnico de Lula”. Serra diz que irá
ampliar o ensino técnico e, como não poderia deixar de ser para seu perfil ideológico, sustentará essa ampliação com dinheiro público destinado às escolas técnicas particulares – vingará aí o velho sistema de bolsas. Isso, aliás, não o faz diferente de Lula que, enfim, pela via de Fernando Haddad, recheou os bolsos dos empresários com o Prouni.

Claro que a objeção que fazemos ao ensino técnico, uma vez colocada diante dos candidatos, não ficaria sem resposta – e rápida. Com a fala fácil que os três possuem, principalmente na disputa de votos, eles diriam que fariam um ensino técnico superior ao existente hoje. Falariam, sem rubor, que construiriam um sistema de ensino técnico tanto profissionalizante quanto propedêutico à universidade. No momento em que escrevo, até posso imaginar a expressão do rosto de cada um respondendo a tal objeção, fazendo ar sério para dar a impressão que chegaram a refletir sobre o assunto. Mas não refletiram nada. E nenhum dos três sabe ao certo o que estão falando.

O ensino técnico no Brasil tem uma tradição de cultivar a terminalidade. Ele nasceu entre o Império e a República não para favorecer o desenvolvimento do país, mas para encontrar um lugar para o pobre. Hoje, o ensino técnico ainda aparece segundo o espírito de quando a Era Vargas o instituiu de modo mais amplo, a partir da década de quarenta. O que foi criado pela Era Vargas, por obra do ministro da Educação Gustavo Capanema, espelhou o Estado Corporativo. Todo o ensino era feito em canais pouco comunicáveis horizontalmente, de modo que a população estudantil já se configurasse dentro de uma corporação antes mesmo do término de seus estudos. O ensino produziria as corporações, sendo que algumas, formadas por gente mais pobre, se constituiriam de modo mais rápido. Depois, nos anos sessenta, quando o ensino ficou livre de vez das amarras horizontais da legislação, que proibiam que o ensino técnico habilitasse para o ensino superior de um modo geral, o reflexo disso, ou seja, tudo que se seguiu daí em diante, não criou nenhuma boa tradição. Tanto é que, quando em 1971 a Ditadura Militar tornou todo o ensino médio em ensino técnico-profissionalizante, isso só serviu para inviabilizar a escola média e desacreditar de vez o ensino técnico perante as classes médias e, até mesmo, perante as classes populares. Em 1978, o próprio governo federal, ainda no ciclo dos governos militares de 1964, reconheceu o erro e eliminou a obrigação da escola média de se manter filiada à proposta técnico-profissional.

A inviabilização desse projeto da Ditadura Militar deixou para vários entre nós uma experiência: que a insistência nesse tipo de educação não era algo a ser feito novamente. Para além dos problemas pedagógicos, que realmente mostraram os erros dessa insistência, um dos elementos mais fortes para sua inviabilização foi a rejeição do modelo pela própria população a quem ele foi destinado.
A população brasileira, especialmente os setores popualres, não queria a escola profissionalizante de nível médio. Aliás, quando da hora da matrícula e não na hora da eleição, ela ainda rejeita o ensino técnico-profissionalizante. A profissionalização no ensino médio que sempre foi aceita pela população brasileira, para além da fornecida pelo do Senai e Senac, era a da formação da professora pela Escola Normal, uma escola estadual, e a da formação de contabilista, em geral feita por escolas municipais. Essas escolas davam terminalidade ao terceiro ou quarto anos. Fora disso, a população brasileira sempre preferiu o ensino médio como uma educação propedêutica à universidade. O filho do pobre sempre sonhou com a profissionalização na universidade e, se assim não acontecia por obra da barreira do vestibular, jamais quis
fixar sua dedicação em uma escola técnica profissional. Afinal, ele sempre soube que, para uma profissionalização naquele nível, as próprias empresas dariam treinamento técnico-profissional – sem dúvida
melhor do que faria uma escola de rede pública ou privada.

Esse pensamento ainda não mudou. Todavia, a idéia de que o ensino técnico é uma boa opção, é ideologicamente criado e recriado entre as elites, inclusive as elites sindicais, e, por isso mesmo, elas sempre gastam saliva nesse tópico. Elas vendem um peixe que só é assado pela sociedade porque essas elites fizeram propaganda (enganosa) do tal peixe. Mas, quem já comeu bons peixes, sabe que este está contaminado pelo agrotóxico da hegemonia do pensamento conservador.
O ensino médio não tem como ser bom, técnico e popular tudo ao mesmo tempo. Expandir o ensino técnico médio de modo real, mantendo-o como um ensino que realmente profissionaliza e que não castra aqueles que, porventura, queiram depois seguir para a universidade, não é algo viável. Todos sabem disso. Ficaria muito caro uma rede de escolas técnicas de boa qualidade para além das redes que já temos. Criar estabelecimentos e fazer deles escolas que gerariam jovens mais informados sobre o mundo e, portanto, capazes de lidar com saberes para além das questões técnico-profissionalizantes, é um projeto muito dispendioso se comparado com a expansão de uma boa rede pública de ensino propedêutico.

Assim, conta contra o projeto dos três candidatos, dois fortes elementos: a não preferência da população, a hora da matrícula, pela escola técnica; a falta de dinheiro para tal, uma vez que é um projeto realmente caro, algo que, se possível, nunca sairia do âmbito dos tais “projetos experimentais”.

Por que esses candidatos, então, mantêm essa plataforma? Só ignorância? Não, o que há é a força da ideologia. Essa ideologia de que o melhor para os setores populares é conseguir uma formação mais rápida, ligada de modo muito direto ao mundo do trabalho, é o aspecto mais forte (e talvez um dos mais perversos) do corpo de pensamentos das elites brasileiras desde o século XIX. A idéia básica é simplesmente o seguinte: filhos de trabalhadores não foram feitos para estudar e, sim, para trabalhar; então, se vão estudar, que estudem num lugar que já os coloque logo no mundo do trabalho. Esse é um pensamento pouco generoso, de caráter conservador. Nossos três candidatos são, em termos gerais, conservadores. Sabemos disso. E isso aparece de modo mais nítido nas suas propostas de educação. Os candidatos poderiam, para ganhar votos, mentir em outra direção.
Poderiam dizer que dariam uma escola básica e boa qualidade para todos, que todos teriam chances para o ensino superior. Mas eles preferem mentir e, ao mesmo tempo, propagar sua ideologia. A ideologia é, por definição, o que esconde algo, mas, ao mesmo tempo, o mostra. A população é convidada a se enganar: fica com a ideia de que, como é provável que nunca terá acesso ao ensino superior e que estudar é, realmente, algo feito para os filhos dos ricos ou para os filhos dos que já estudaram, então, é melhor sonhar com o possível: a escola técnica que dará profissão rapidamente. Esse sonho pequeno termina na hora da matrícula. Nessa hora, todos vão para a escola existente, pública, gratuita e, em geral, a escola que se mantém como aquela para o qual o fluxo da vida corre. Mas o sonho maior ressurge. Afinal, aos 13 anos, contra a lei, um jovem pode ser posto no trabalho e não reclamar, mas, a favor da lei, ele não gosta de ser posto numa escola do trabalho. Ele sonha com o ensino superior como o único e tardio campo de profissionalização legitimo. Ele esquece, aí, o voto conservador de seus pais para os candidatos que falaram que viabilizariam o ensino técnico. Aliás, diga-se de passagem, esses candidatos não vão viabilizar nenhuma coisa realmente útil, em termos de educação, para o Brasil. 


©2010 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ

Entendam Alvin Toffler e suas ondas



Na Primeira Onda, ou sociedades agrárias, a principal forma de capital era a terra. Se eu cultivasse a minha terra, você não podia cultivar a sua plantação na mesma terra ao mesmo tempo. Era ou você ou eu, nunca ambos.

Na Segunda Onda - O mesmo era - e ainda é - verdade para o capital nas economias industriais. Você e eu não podemos usar a mesma linha de montagem ao mesmo tempo.

Na Terceira Onda - Tudo isso se inverte nas economias , nas quais o conhecimento é a principal forma de capital. Você e eu podemos usar o mesmo conhecimento ao mesmo tempo e, se o usarmos com criatividade, podemos até mesmo gerar mais conhecimento.

By Lucila Helena Celete

Escola Keinesiana


Keynes se destaca por repudiar a teoria clássica do Laissez-Faire ou de que os negócios econômicos da sociedade acabam sempre por cuidar de si próprios, desde que nem o estado nem qualquer outra corporação armada de autoridade procure interferir como determinante das ações individuais, como pensava Adam Smith: "Os indivíduos agindo sozinhos tendem a ser melhores". Outros advogam que a contribuição do estado é justamente para manter a liberdade na atividade econômica.
No século XX a atenção foi direcionada para os problemas ligados a garantia de uma eqüitativa distribuição da renda, mediante sistemas de taxas e de benefícios, o que aumentaria a intervenção estatal na indústria e comércio.
Outros da tradição do Laissez-Faire enalteciam as vantagens de uma economia de mercado dentro de uma estrutura legal e institucional destinada a manter a propriedade privada; a iniciativa econômica; a livre escolha de bens e serviços e de emprego e investimento.
A principal diferença entre a teoria Keynesiana e a do Laissez-Faire era no que diz respeito a interferência e importância do Estado na economia.
No período da grande depressão, Keynes desenvolveu, a partir de suas próprias opiniões, a Teoria Geral da Economia; daí sua boa reputação, pelo fato de divergir da teoria do economistas da escola clássica .
Neste período a teoria econômica de esquerda não possuía nenhum tipo de política própria, criticavam o capitalismo e apoiavam a nacionalização dos meios de produção. Tinham crítica mas não tinham planos. A partir daí, Keynes ganha muita importância por ter, com sua obra, uma política econômica definida e por dar aos democratas, justificativa para seu papel no governo. Com isso tinha-se uma mudança na posição do Estado: de vítima passiva dos ciclos econômicos ele passa a ser um meio pelo qual a sociedade podia regular as crises a fim de manter o pleno emprego.
Outro ponto importante na teoria Keynesiana era quanto a medidas a serem tomadas nos momentos de depressão da economia. Ao contrário dos clássicos, ele defendia políticas anticíclicas, permitindo défcitis para financiar obras públicas produtivas (maior número de pessoal possível) durante as depressões e salvando as dívidas nos períodos de expansão.

A ESCOLA KEYNESIANA
John Maynard Keynes é considerado o maior economista do século XX e precursor da Macroeconomia, sem esquecermos de Adam Smith no século XVIII e de Marx no XIX.
Durante a grande depressão de 1930, que assolou o mundo, o principal problema era o desemprego. E este passou a ser a principal preocupação de Keynes na sua teoria: buscar a solução.
A Lei de Say resumiu com notável precisão toda a argumentação clássica (simultaneidade e interdependência entre produção e renda), mas embora tudo indicasse que a oferta cria a sua própria procura, um importante elemento poderia interromper esse mecanismo: a poupança.
Tentaremos então, nesta obra, mostrar como Keynes desbancou os antigos conceitos e apontou soluções práticas para os problemas, sobretudo o do desemprego - ponto principal da sua teoria geral - e sua relação com o investimento x poupança.
Seria muita pretensão tentar abordá-lo em suas minuciosidades, portanto, é nosso objetivo expor uma visão panorâmica sobre suas principais idéias e "reajuste" do capitalismo, mostrando que é necessário agir e abandonar a política do laissez faire (deixar fazer) da escola clássica, que contrariava uma possível intervenção do estado na economia e no mercado. Abordaremos também, por várias vezes, os conceitos dos clássicos para estabelecer um paralelo entre suas idéias e facilitar a compreensão do assunto.
Keynes mostrou ser um homem de ação, sua competência, defendendo a intervenção do estado em benefício da economia, pois inovou com uma visão agregada, ou seja, ensinou a analisar o global, a macroeconomia.

A EVOLUÇÃO DA TEORIA TRADICIONAL DO EQUILÍBRIO DO PLENO EMPREGO

     A Concepção de Equilíbrio da Teoria Clássica

1o. Os conceitos de Estatística, de Equilíbrio de cada Estado Estacionário
As correntes clássicas utilizam três noções:
     Equilíbrio: Exprime que, num sistema econômico, onde elementos quantitativos se encontram em relação, se produz entre eles um ajustamento estável ou instável. Exemplo: a quantidade de bens produzidos a determinado preço se ajusta, permanentemente ou temporariamente, à quantidade de bens oferecidos ao mesmo preço. Define-se tal relação como "Ajustamento de quantidade".
     Estática: É o estudo das condições que presidem à realização do equilíbrio. Ou é simples construção do espírito, esquema abstrato, imagem usada na tentativa de alcançar a realidade; ou então exprime profunda e real tendência da atividade econômica. Traduz desta forma um ideal para o qual tende esta atividade, sem jamais atingi-lo; ou um estado real, efetivamente atingido, no termo de uma evolução dirigida por um fator preponderante.
     Estado Estacionário: É o estado concreto, real, de um sistema econômico que, em seguida de uma evolução, atingiu um ponto de repouso onde todos os elementos são estáveis e nenhuma mudança se produz na quantidade de elementos que compõe o sistema, nem na natureza e força dos movimentos que o animam.
A história revela duas correntes de estudo:
     A primeira considera o estado estático como um estado da vida econômica, estudando a formação do equilíbrio como se estivesse estudando um fenômeno concreto e mostra como a atividade econômica se dirige para o estado estacionário.
     A segunda considera que o estado estático é um estado hipolítico, utilizando o conceito de equilíbrio como um meio de análise e parte da hipótese estática para estudar uma atividade econômica cuja realidade se aproxima desse esquema, sem lhe ser exatamente conforme; o equilíbrio é uma tomada de posição metodológica.
Já a Teoria Geral de Keynes considera o equilíbrio uma situação concreta e encara a possibilidade de um estado estacionário.

2o. A determinação do Equilíbrio Estático e o Estado Estacionário.
Sendo o equilíbrio um estado real da atividade econômica, a teoria tradicional demonstra existirem duas espécies de equilíbrio: o correspondente a um estado em movimento e o realizado pelo estado estacionário, sendo que, estão sujeitos a ação de um elemento diretor: o salário; onde na teoria clássica existem três concepções de salário: a do mínimo de existência, a do fundo dos salários e da produtividade.
Recorremos as duas primeiras para explicar a realização do equilíbrio, tanto no estado estacionário quanto no estado progressivo.
Adam Smith leva todo o jogo do equilíbrio a basear-se num eixo constituído pelo salário mínimo:
O salário não pode descer abaixo do necessário ao trabalhador para assegurar uma subsistência e a dos seus; por outro lado, a massa dos salários é paga pelos fundos destinados à manutenção do trabalho e que depende da acumulação de capital pelos empresários. A oferta do trabalho - dependendo do tamanho da população - e a procura - dependendo do tamanho dos fundos - determinam a taxa dos salários. Quanto ao lucro - confundido com juro - sua taxa depende da abundância dos capitais. Portanto, o aumento desses faz subir os salários e baixar os lucros.
No estado progressivo quando o montante das somas destinadas a acudir às necessidades dos trabalhadores aumenta mais depressa que a quantidade de trabalho, o salário se fixa acima do nível das subsistência; no estado regressivo produz-se o inverso.
Mas, com o tempo, o lucro baixa demais para poder incitar ao investimento; o capital já não se acumula mais e, portanto, o salário tende à fixar-se no nível das subsistência. Desde então, produz-se um ajustamento em que o preço, taxa de lucro, taxa de salários, tendem a permanecer estáveis; o estado estacionário, estado real da sociedade, é então atingido.
Mas qualquer que seja o estado da sociedade (regressivo, estacionário ou progressivo) é pela influência do lucro, o qual determina o salário a fixar-se no nível das subsistências, que se realiza e se exprime o estado de equilíbrio.
A baixa do lucro prejudica a acumulação de capital e, portanto, o desejo de empreender, chegando ao estado estacionário.
Outros achavam que o mínimo de subsistência não é fixado por meios externos, mas sim por um caráter psicológico suscetível de variação.
Marshall abranda o conceito de equilíbrio, levando-o ao auge tal concepção. Diz que o equilíbrio realizado não é apenas o equilíbrio do preço, mas todo o sistema, pois pela oferta e procura, atinge o custo dos produtores e as necessidades dos consumidores, apresentando um conjunto complexo, no qual a modificação de qualquer um dos elementos, mesmo se colocado aparentemente no último plano, modifica as condições do equilíbrio e o repõe em causa.
     O equilíbrio do pleno emprego na teoria clássica:
Na teoria clássica, o equilíbrio resulta, portanto de um ajustamento do montante do capital e do nível da população; e esse equilíbrio se caracteriza pelo fato de acarretar a plena utilização de todos os fatores de produção: capital e trabalho.
Qual é o papel do capital e, por conseguinte, da poupança e do investimento, na realização do equilíbrio do pleno emprego? Por que há sempre e não pode deixar de haver pleno emprego?
1.    A procura de trabalho
"O número de trabalhadores úteis e produtivos é, em todo lugar, proporcional à quantidade de capital-estoque que é empregado para lhes permitir trabalhar e o modo particular pelo qual é empregado," - Adam Smith.
O volume de emprego é determinado pela fração do capital empregado para lhes pagar os salários, e as suas variações estão ligadas ao montante do capital empregado.
Possuir e ser titular de um estoque que consiste no "montante de bens pessoais, ou de bens outros que não a terra, considerados em dado momento" (Smith).
Capital é aparte do estoque que fornece uma renda, a diferença entre o estoque e o capital é destinada ao consumo.
Determina-se com relação ao indivíduo duas partes: O capital fixo e o circulante. E com relação a comunidade uma terceira parte: a reserva tendo em vista o consumo.
O capital fixo é o empregado para a melhoria da terra, para compra de máquinas, de instrumentos e, em geral, para produzir uma renda que fique nas mãos do seu proprietário.
O capital circulante é, ao contrário, destinado a mudar de titular; é empregado para cultivar, fabricar ou comprar produtos e vendê-los com lucro. É o capital circulante que fornece os materiais e os salários do trabalho e põe a indústria em movimento.
Com relação à poupança: "tudo quanto uma pessoa poupa de sua renda, acrescenta-se ao seu capital; ou emprega para manter um número adicional de pessoas produtivas, ou põe outras pessoas em condições de o fazer, emprestando esse capital mediante um juro, isto é, parte dos lucros"
Portanto, como o aumento da quantidade de trabalho útil depende do aumento de capital, depende também em definitivo da poupança, pois quando investida, leva à subsistência dos trabalhadores.
Em resumo, o capital faz parte dos fundos acumulados, servindo para produzir uma renda.
Uma fração desse capital determina a quantidade de trabalho produtivo, que só pode aumentar se a renda também crescer graças a uma poupança tirada da renda anual.
2. O equilíbrio do emprego do capital e do trabalho.
A alta ou baixa dos salários é comum a todos os estados de uma sociedade, quer seja no estado estacionário, no de progressão ou no de regressão.
No estado estacionário, é regido inteiramente pelo crescimento ou pela diminuição da população. No estado de progresso, pelo aumento daquele que mais aumentar em relação ao outro - Capital ou População. No de regressão é o inverso.
O que acontecerá se a população crescer, enquanto a quantidade de capital permanece o mesmo? Diminuição de empregos caso não baixem os salários.
O salário iguala a população e o capital. Portanto, quando se produz o salário abaixo do mínimo de existência, produz uma redução da população, uma diminuição do emprego. Quando se aumenta o salário, ocorre o inverso.
Os sucessores dos clássicos se condenaram a um impasse e não chegam a explicar por que o sistema pode estar em equilíbrio quando existe sub-emprego do capital e do trabalho; ou, mais exatamente, não se aperceberam de seu erro que é o de postular o pleno emprego do capital e do trabalho. Ora, é aí precisamente que Keynes introduz sua correção essencial graças à uma nova teoria de poupança e do investimento e à dissociação entre volume da população operária e volume do emprego efetivo. Em outras palavras, percebe que as quantidades de capital e trabalho podem ajustar-se, ou melhor, que o sistema fica em equilíbrio mesmo quando há sub-emprego de um de outro, o que não surpreenderia porque o sub-emprego da mão-de-obra está ligado ao sub-emprego do capital. Antes de abordar esta explicação, resta esclarecer por que os clássicos se perderam.
Na teoria clássica, todas as quantidades de capital e de trabalho são empregadas.
O erro está em considerar que sempre a quantidade de capital está empregada.
Keynes diz que existe, também, o chamado desemprego voluntário, estabelecendo como meio determinante, quando o salário nominal não tem elasticidade e o operário não pode intervir na taxa, a baixa do salário real.
O volume de emprego não pode ser estabelecido pela utilidade do salário e a desutilidade marginal.

INCENTIVO AO INVESTIMENTO
Quando Keynes fala de economia monetária, ele mostra que o dinheiro tem 3 funções:
     meio de troca
     unidade de conta
     reserva de valor
Porém a mais importante para a economia monetária segundo Keynes é a reserva de valor, - ou seja, poupança, aplicações monetárias, etc. - pois a mesma possibilita o entesouramento de dinheiro, mas sem, contudo, esquecer-se do incentivo ao investimento.
Esse entesouramento de dinheiro, é o que vai possibilitar a capacitação de recursos para que se tenha capital que vai ser emprestado para o investidor.
Investidor esse que ao tomar o empréstimo, investe no aumento da sua produção que acaba gerando uma maior demanda de empregos.
Ao estimular a produção, gerando mais empregos, ele ao mesmo tempo que aumenta a sua oferta de manufaturados, ela, ao empregar m número maior de funcionários, acaba aumentando o número de consumidores em potencial - pois o cidadão agora que tem um emprego e renda fixa, ele vai começar a consumir mais, gerando um aumento significativo na demanda - por isso é que o governo deve aumentar o incentivo ao investimento.

PRINCÍPIO DA DEMANDA EFETIVA
Primeiramente, devemos ressaltar que foi de grande interferência a Depressão dos anos 30 para que as teorias a respeito desse tema fossem formuladas por Keynes e Kalecki. Esse princípio determinava que se deveria produzir a quantidade dada e não o que o sistema tivesse a capacidade de produzir, portanto, se não houvesse demanda não haveria produção e consequentemente a capacidade de produção se tornaria ociosa.
Esse percurso pode ser definido através de três elementos que seriam: o poder de compra, da demanda e a produção, onde esses três fatores cresceriam e diminuiriam seguindo a uma mesma direção.
Devemos colocar ainda que esses princípio se tornou ponto de partida para os estudos sobre a teoria do emprego.
Voltando a questão do poder de compra, seria bom se falar em dois fatores desse poder de compra colocado por alguns economistas, onde você tem: o auto financiamento (onde ocorre o envolvimento dos seus próprios patrimônios) e o financiamento externo (a unidade através de créditos).
Keynes coloca que o equilíbrio máximo, alcançado por uma dada economia não está na diminuição do desemprego, mas sim no fato de que não existe capacidade ociosa onde os capitais de investimentos fixos estão em funcionamento normal, portanto, o problema não está relacionado com as pessoas e sim com as máquinas, onde alguns definem que a capacidade produtiva é a quantidade de produção que se obtém quando o equipamento está sendo utilizado normalmente.
O conceito utilizado de demanda efetiva, agregada ou global, está no fato de que Keynes foi precursor da macroeconomia, portanto, analisava os fatos de modo globalizado e não isoladamente como antes se fizera. Essa demanda efetiva não chegando a níveis próximos da oferta global, ou seja se a consumação se torna baixa, os investimentos insuficientes resultarão em um declínio de emprego, de produção e de renda. Se permanecerem em níveis proporcionais permanecerá estável.
Alguns economistas colocam que "a oferta cria a sua própria procura". Esse conceito, Keynes torna inválido uma vez que se isso fosse real, a procura e a oferta global seriam iguais para todas as quantidades de emprego, ou seja, mais emprego significará mais renda, porém é bom indicar que toda a produção é consumida em bens de consumo, portanto a renda aumenta em níveis proporcionais menores que a quantidade de produção.
Então, mais emprego significa mais renda que resulta em uma maior produção. Enfim, o emprego em função do preço da procura nos coloca que quanto maior for esse preço. Maior será também a quantidades de emprego. Colocando já em questão o volume de produção em função do rendimentos, percebemos que o rendimento se eleva, mas em níveis proporcionais menores que o consumo, onde o fato determinante é a propenção a consumir que coloca que o volume da procura está em função do aumento da renda, porém nem todo rendimento adquirido é utilizado para o consumo, pois existem ainda os que preferem os investimentos.
Enfim, Keynes acentua o termo teoria geral para contrastar com a teoria econômica clássica que se limita ao pleno emprego. Keynes procura mesmo é explicar o volume de emprego em um dado momento, coloca que o desemprego é nítido em qualquer economia, sendo inevitável, assim como ele vê a inflação, onde ambas dependem do volume da procura efetiva, onde observa-se que quando a procura é deficiente gera desemprego, quando é excessiva resulta na chamada inflação.