As Sociedades Panópticas do Século XXI
Artigo sobre a terceira parte do livro Vigiar e Punir de Michel Foucault
Jorge Macedo Costa
A temática desenvolvida por Michel Foucaultem Vigiar e Punir poderá ser sem duvida alguma, um motivo de angustia profunda para os indivíduos que julgam viver em liberdade nas sociedades modernas do século XXI, e mais ainda aos que pensam ter uma mentalidade própria e uma personalidade única formada pelos seus valores culturais e pela sua própria capacidade intelectual.
Muito embora essa temática esteja inserida num contexto social dos séculos XVII e XVIII, ela é em absoluto contemporânea, no que se refere à formação de indivíduos sócio-disciplinados.
Sobretudo na terceira parte – disciplina – onde Foucault discorre com muita propriedade as questões referentes à imposição do poder disciplinar nos indivíduos, temos uma noção bem ampla do efeito desse poder na formação social desses indivíduos.
Na visão de Foucault, a disciplina é um meio pelo qual se consegue ao mesmo tempo ordenar e tornar útil os indivíduos aos quais ela é imposta, para determinadas atividades, ou como ele se refere a essa idéia, “docilizar” e “adestrar” ou ainda “fabricar” tais indivíduos com determinado propósito.
A partir dos exemplos de fabricação de indivíduos que ele descreve, fica fácil relacionar suas idéias com o modelo de sociedade no qual nós vivemos, apesar de que aqui, não vai estar presente essencialmente o modelo original de disciplina – do cumprimento de exercícios e normas, sendo o exemplo mais clássico os dos soldados - mas sim, e, sobretudo a disciplina imposta pelas leis.
No modelo original descrito por Foucault, os meios pelos quais se impõe a disciplina são: a vigilância hierárquica, a sanção normalizadora e o exame, e mais uma vez não é difícil contemporaneizar tais meios, sendo que eles de maneira absolutamente original.
Há, no entanto uma diferença notável. A de que a disciplina não vai funcionar nessas sociedades somente como um poder de coerção para a fabricação de indivíduos dóceis, mas um poder que se propõe fundamentalmente fabricar uma sociedade normalizada.
O que vemos novamente, é uma estreita ligação dessas relações, no que se observa que vivemos numa sociedade panóptica, fazendo aqui uma apropriação da idéia de Foucault do "Panoptismo".
A partir do modelo proposto pelo filosofo inglês Jeremy Bentham de uma prisão perfeita, o panóptico, surgiu diversas ramificações do modelo de disciplina panóptica nas sociedades contemporâneas, com diferença somente na arquitetura.
O panóptico consistia em uma prisão num formato circular com celas individuais tendo ao centro uma torre de controle onde permanecia um vigilante. Na incerteza de está sendo vigiado ou não, o preso permanecia disciplinado.
Ao transpor esse modelo de disciplina para as sociedades atuais, percebemos que vivemos exatamente dentro de uma enorme prisão construída pelo poder disciplinador das leis, sendo que temos na “torre de controle” dessa sociedade os poderes coercitivos legais, formados pelos militares e pelo poder judiciário.
Aqui foi mencionado somente o exemplo mais abrangente da disciplina conteporânea mas o que percebemos é que as ramificações do panoptismo são inúmeras e que apesar de o projeto original do panóptico não ter sido desenvolvido, ele está muito presente e sólido em todas as sociedades do século XXI.
Só que se faz necessário assinalar outra diferença do projeto original do panóptico de Bentham, pois ele tinha em mente que seu modelo de prisão seria uma prisão perfeita.
Nessa pretensão ele acabaria contrariado assim como também acabaram as pessoas que idealizaram reproduzir esse sistema disciplinar nas sociedades contemporâneas, essa sociedade cada vez mais violenta e banal, no que se refere ao pactos sociais de paz e direito à vida.
